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O Casamento acabou! E a empresa?!

O Casamento acabou! E a empresa?!

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Em termos gerais, até meados da década de 1960 (quando eu era criança), casamento era visto como uma união estável entre um homem e uma mulher da qual, geralmente, resultava em filhos. Depois, com o avanço da indústria/urbanização, passou a ser visto de outra forma, era algo que podia ser feito ou refeito, apesar dos filhos e das propriedades do casal, pois cada uma das partes podia dispor de meios para se sustentar e alternativas para selecionar novos cônjuges sem grandes dificuldades. As pessoas “desquitadas” (como se dizia) não eram mais apontadas nas ruas, pois eram muitas. Os filhos podiam ir para a creche ou para a “escolinha” enquanto os pais trabalhavam e havia os avós e as domésticas que também quebravam um galho.

Atualmente, nesse mundo informatizado, automatizado, repleto de fãs do “self-service” e do descartável, o casamento pode ter algo de conexão momentânea, conveniente ou até virtual, podendo ser desfeito a qualquer hora. Os filhos podem ser evitados, adotados ou agregados, uma vez que os sexos dos parceiros podem ser diferentes ou iguais, enquanto seus rituais são restritos e raros, podendo se limitar aos almoços do final de ano e as eventuais fotos arquivadas em alguns celulares.

Cabe a cada um se comprometer com o outro, de acordo com a sua visão e crença, em um determinado momento para comemorar ou se arrepender no momento seguinte. O arrependimento pode surgir porque há evidências de traição às juras de amor ou porque a monotonia frustra as expectativas de excitação, levando cada um a culpar e a criticar o ex-amante. Mas mesmo o arrependimento pode ser minimizado mediante a utilização de diferentes tipos de drogas legais ou ilegais.

Além disso, na atualidade, a proporção de milionários e empresários aumentou, e muito. Não que uma coisa tenha necessariamente a ver com a outra. É que tanto o volume de dinheiro circulando nas diferentes sociedades como o número de empresas existentes aumentaram. Assim, as chances de duas pessoas estabelecerem, entre si, relações amorosas e de negócio cresceram. Alguém poderia argumentar que somente uma pessoa muito otimista poderia acreditar na possibilidade de estabelecer relações saudáveis e duradouras, nesses dois âmbitos, com a mesma pessoa. Algo como acreditar que ganhará na loteria todas as semanas, o suficiente para viver em situação de fartura. Mas quem é mais otimista do que um apaixonado?!

São exatamente esses os que correm maior risco de se deparar com essa questão: “De que forma vou me relacionar com meu ex-cônjuge que continua sendo meu sócio?”

É claro que o melhor caminho é o da prevenção. Para tanto, recomenda-se que os pares de namorados, casados e assemelhados analisem diferentes alternativas antes de optarem por estabelecer uma sociedade com fins lucrativos. Se a paixão não permitir vislumbrar alternativas, sugere-se que estabeleçam as bases para funcionamento da empresa antes de a inaugurarem.

Essas bases se referem, em primeiro lugar, às atribuições de cada um dos membros do casal. O que se espera que cada um faça regularmente para o adequado funcionamento da empresa, precisa ser (no mínimo) esboçado e validado por ambos. Depois, isso precisa ser revisado periodicamente com o objetivo de manter o consenso, nunca com a meta de um mostrar que é mais esperto do que o outro. Faz parte dessa base, também, a forma como vão se relacionar entre si e com os demais participantes do ambiente empresarial: clientes, fornecedores, parceiros e subordinados; visando promover e preservar o poder da empresa. Sempre lembrando que o poder tem algo de misterioso, ninguém sabe ao certo até onde vai o poder de alguém ou de uma empresa em uma cadeia de suprimento ou até onde vai a ilusão de poder, em um determinado momento do presente.

Há dez anos, fui consultado por um casal. A esposa tinha se dedicado a manter uma rede de lojas de varejo e resolveu convidar o marido (que tinha se aposentado) a atuar na gestão desta. Colaborei para que as bases fossem elaboradas e validadas por ambos. A esposa ficou com a gestão do ponto de venda e as compras. O marido se propôs a cuidar da parte administrativo- financeira, desde que isso pudesse ser feito todos os dias, no horário das nove às treze horas. Depois disso, ele iria para casa almoçar e descansar. E, desde então, ele tem cumprido sua parte religiosamente. Eventualmente, até abre alguma exceção e atua após o almoço, desde que o motivo seja muito forte. E mais: sempre que alguém procura por ele para tratar de outros assuntos; ele tem a resposta pronta: “Nesse caso, é melhor você falar com a patroa”. E aponta na direção da sala dela.

Conversamos no início deste ano, para verificar os pequenos ajustes que precisavam ser feitos. Eles permanecem satisfeitos com a convivência no trabalho e em casa e, conseguem até tirar férias e viajar juntos. O que indica que os problemas e conflitos estão sendo devidamente administrados.

Isso mesmo, toda e qualquer providência não impedirá a existência de conflitos e problemas na vida de pessoas que vivem situações semelhantes a esta. O importante é saber como as partes farão para manter o nível de maturidade necessário para superar cada um destes.

Em outro caso, fui procurado por um casal quando a situação da rede de escolas de inglês em que eram sócios estava complicada. Ela, professora de inglês, tinha iniciado tudo a partir da elaboração do material de ensino dessa língua, aplicando um método no qual ela acreditava de coração. Ele só passou a participar quando a ideia de franquia tomou corpo. De acordo com ela, tudo ia muito bem até que uma nova rede de escolas surgiu e se alastrou sem dar qualquer valor para a qualidade do aprendizado. Na opinião dele, para concorrer, seria necessário fazer algumas concessões. Cada um insistindo na sua própria versão, ambos tornaram o consenso neste sentido inviável. Ele, então, voltou a atuar como empregado; e ela voltou a ser a única proprietária da empresa. Com isso, o casamento foi preservado.

No caso mais complicado, ambos eram sócios em uma empresa de transporte juntamente com os outros. Ao me procurarem para falar sobre a empresa, o casamento já estava por um fio. Consta que (de acordo com a esposa) ele tinha se engraçado para o lado de uma “mocinha”, dando-lhe vários presentes de valor significativo. Em decorrência disto, a esposa se sentiu no direito de comprar alguns presentes para si própria. Para tanto, ambos teimavam na distribuição de lucro em detrimento da constituição de reservas para investimento, se indispondo com os outros sócios. A relação entre ambos estava bastante intoxicada e não conseguiam manter o foco do debate por mais de trinta segundos sem descambar para o ataque pessoal. Com isso, não foi possível sequer apresentar-lhes uma proposta de trabalho. Resultado: pouco tempo depois se separaram e a empresa passou por um período muito delicado até que venderam sua parte na empresa, na “bacia das almas”, somente para encerrar o processo.

Se há uma lição que se pode aprender com essa última história, é a seguinte: se ambos concordam que a separação é inevitável, façam todo o esforço para chegar a consenso a respeito de qual o advogado que cuidará do processo. Se nem com relação a isso conseguirem um acordo, saibam que os custos para ambas as partes podem ficar muito maiores.

 

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